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A trilogia erótica e romântica ou erótica-romantica, ou o que seja...não importa: o que importa é o que está por trás do romance: leitor das nossas mentes, dos nossos desejos, das nossas curiosidades....

O ponto central, o x da questão, é a dominação de uma mulher por um homem: a relação, composta por um homem dominante e uma mulher dominada, mesmo que seja entre quatro paredes e consentida, é um tabu. Até que ponto hoje se aceita, dentro do conceito de normalidade, uma submissão feminina? Não tenho essa resposta. O quando se aceita é uma incógnita. Mas o quanto desperta a atenção para o assunto já temos a resposta: milhões de livros vendidos.

O fato é que o sadomasoquismo saiu do cine D e das publicações especializadas e entrou nas nossas casas, como um romance. Mesmo os olhares e as críticas mais desconfiadas não conseguiram afastar a curiosidade dos leitores.

Entendo que a luta feminista vem a décadas lutando para a mulher ser respeitada, valorizada e detentoras dos mesmos direitos do outro sexo. Eu estudo, pesquiso e defendo cada pequeno e grande passo legal e social das mulheres desse mundo. Mas entendo também que a realidade e a fantasia podem conviver em harmonia. Uma fantasia é um desejo, um fetiche, que traz prazer para todas as pessoas envolvidas. Se há agressão, pressão, ameaça, deixa de ser saudável e passa a ser violência: física, mental, emocional, às vezes todas elas, às vezes alguma delas. Não só violência, pode ir além e virar tortura. Pode ser, inclusive, resultado de uma patologia séria.

Cinquenta tons de cinza não trata disso. Não trata de direitos humanos, nem de direitos das mulheres, nem de política alguma. Trata do ser humano e dos seus desejos. Revela como pode ser composta uma relação em diferentes tons. Tons de cinza, tons de cores diversas. Há gosto para todos os gostos. E o olhar inóspito não afasta o desejo pulsante dentro de um quarto, dentro de uma relação saudável onde duas pessoas adultas se relacionam.

Se pensarmos, até pouco tempo a forma como as mulheres eram conceituadas, julgadas e marcadas variavam de acordo com sua conduta sexual: ou damas ou putas. Ou a mulher casada servia ao marido em casa (vide a releitura de Gabriela, de Jorge Amado) como um ser quase assexuado ou o servia na rua, como se fosse uma comida fast food, uma puta. Hoje, quando temos a liberdade de estarmos onde quisermos, com quem quisermos, fazendo o que bem desejarmos, há quem se manifeste para dizer que a liberdade sexual elegida pelo casal do livro, o sadomazoquismo, é uma volta no tempo onde a mulher era submissa. Ou seja, a continuação da mulher coisa, como algo que se usa. Mas, afinal, as duas pessoas que compõe o casal se usam em busca do prazer porque é uma decisão dos dois. Se usam e se desejam, mutuamente.

Me despeço com Anastásia Steele, personagem central do livro: “Às vezes me pergunto se existe algo de errado comigo. Talvez eu gaste muito tempo na companhia de meus heróis românticos literários, e consequentemente meus ideais e expectativas são extramamente altos.”


 
 
 

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