- Lais Locatelli

- 11 ago 2016
- 3 Min. de lectura
Eu poderia escrever um dia todo sobre o “amor”. Poderia também escrever um ano ou dois ou 10. O fato é que o amor desde sempre é objeto de observação. Mais que isso, é objeto de interpretação. E nesse registro, tudo é pessoal. Cada um interpreta o amor de acordo com suas experiências, carências, educação, relação com os símbolos e mais uma centena ou mesmo um milhar de coisas. Eu tenho a mania de simplificar, o desejo de simplificar, e quando me perguntam sobre o amor costumo ser breve: O amor só é possível quando é impossível.

Sim, exatamente. O amor reside na impossibilidade, na sublimação e resultam muitas vezes em relacionamentos tumultuados, grandes expectativas e tragicomédias. Aliás, o amor costuma ser uma grande tragédia para quem sente, mas uma grande comédia para quem observa - ou para quem pensa, de acordo com Nietzsche. Inclusive, o amor pode ser uma comédia para uma das partes da relação. Oscar Wilde diz: “Há sempre um quê de ridículo nas emoções da pessoa que deixamos de amar”. E não é? Especialmente a ridícula insistência de quem não sabe perder, de quem tenta desesperadamente voltar e no final até mesmo manipular, ultrapassando a frágil linha do bom senso. Jabor com seu brilhantismo resume a ópera: “Se ele ou ela não te quer mais, não force a barra. O outro tem o direito de não te querer. Não brigue, não ligue, não dê pití. Se a pessoa tá com dúvidas, problema dela, cabe a você esperar... ou não”. E o final, shakespeariano, que define Freud: “O instinto de amar um objeto demanda a destreza em obtê-lo, e se uma pessoa pensar que não consegue controlar o objeto e se sentir ameaçada por ele, ela age contra ele”.
De onde vem esse desespero? Esse desejo quase incontrolável de termos o poder sobre o outro? É isso que denominam “lutar por um amor”? Penso que o próprio verbo empregado já é a resposta: Lutar. Se é uma luta, é porque não é bom. Se não é bom, não é amor.
Eu diria ainda que o amor tem muito mais a ver com nós mesmos do que com o outro.
Assim como a paixão que nada mais é que o nosso grande espelho...e quem sabe, por esse motivo, se dissolve no ar com tamanha efemeridade. É breve, mas intenso. Parece bastante lógico: se nos vemos em outra pessoa durante um tempo, assim que deixamos de nos ver, acabou a paixão. E o amor...ah o amor...é ainda mais difícil. Jacques- Alain Miller nos ensina que “Amar verdadeiramente alguém é acreditar que, ao amá-lo, se alcançará a uma verdade sobre si. Ama-se aquele ou aquela que conserva a resposta, ou uma resposta, à nossa questão “Quem sou eu?”.”
Depois da paixão vem a construção do amor. Sim, construção. “O melhor caminho do amor conjugal é a amizade” dizia, de fato, Aristóteles. Lacan faz uma objeção a essa bela solução aristotélica ao dizer que o diálogo de um sexo com o outro é impossível. Logo, os apaixonados estarão condenados a estar infinitamente buscando aprender a língua do outro.
Volto a Lacan que sobre o amor diz mais: “Amar, é dar o que não se tem”. Ou seja, dar o que vai além de si mesmo, algo que lhe falta. E para tanto é necessário reconhecer-se incompleto, reconhecer justamente essa falta, essa “castração”, segundo Freud. “E isso é essencialmente feminino. Só se ama verdadeiramente a partir de uma posição feminina. Amar feminiza” (Miller). Quem sabe por isso a mulher busca mais o amor, por fazer parte da sua própria essência, e o homem busca preservar a virilidade, fugindo do reconhecimento de ser incompleto.
Vocês podem estar pensando: que aglomerado de idéias! Mas falar de amor sem buscar ajuda é como escutar som no vácuo. O amor não é uma atividade solitária...nem mesmo para somente falar dele. Concluo, enfim, com Jacques-Alain Miller: “O amor é um labirinto de mal entendidos onde a saída não existe”.
























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